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“Pintei da minha cor, tá?”

19 de novembro de 2014

O que podemos aprender com o protesto de Cleidison, que pintou os personagens da Turma da Mônica para ficarem mais parecidos com ele?

Nos últimos dias de setembro, Cleidison, aluno do 5º ano de uma escola municipal de Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro, entregou sua prova, estampada com um desenho da Turma da Mônica, com todos os personagens pintados de marrom. Ao entregar o papel, disse à professora: “Pintei da minha cor, tá? Cansei desses desenhos diferentes de mim”.

Joice Oliveira Nunes, a professora em questão, teve uma reação maravilhosa: publicou uma foto da prova no facebook, abraçando a causa colocada por seu aluno.

A atitude de Joice nos mostra que não só toda criança pode aprender, mas também que as crianças têm a capacidade de ensinar os adultos. Muitas vezes elas chamam atenção para preconceitos perpetuados por nós, mas que elas ainda não naturalizaram.

Observando as crianças, podemos aprender a superar os nossos preconceitos.

O racismo é um problema social grave. A falta de representatividade de negros faz com que, desde cedo, as crianças negras sintam-se deslocadas do mundo social. Imagine, por exemplo, viver em um mundo onde várias pessoas tivessem cabelos vermelhos, mas na televisão, revistas e livros, só aparecessem estampadas pessoas de cabelo azul. Seria difícil se identificar com aquelas pessoas, e a sensação de exclusão nos tomaria diariamente. É o que acontece com crianças negras pelo mundo.

Recentemente, a atriz queniana Lupia Nyong’o falou sobre a importância de ver na capa de uma revista a modelo sudanesa do sul Alek Wek:

“Lembro de um tempo em que me sentia feia. Ligava a TV e só via peles pálidas. Era provocada e insultada por causa de minha pele escura. Minha única oração a Deus (…) era que eu acordasse com a pele clara…E então, apareceu Alek Wek. Uma modelo celebrada, ela era negra como a noite, estava em todas as passarelas e revistas. Todos falavam sobre como ela era linda (…) Quando eu vi Alek, vi uma reflexão de mim mesma que não pude negar.”

O protesto de Cleidison nos mostra o desejo pela representação da diversidade. Como fez sua professora Joice, devemos dar atenção ao que está sendo dito em sua singela manifestação artística. Aprendemos com Cleidison que um mundo mais inclusivo não é feito somente de palavras, mas também de imagens.

 

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